O Governo angolano anunciou recentemente a abertura de concurso público para licenciamento de importadores de arroz.
O motivo do avanço, dizem as várias notícias, é travar o dispêndio de divisas. Sim, travar o dispêndio de divisas! Talvez tenha eu uma ignorância que transcende os limites do aceitável, mas licenciar importadores não é exactamente um caminho para travar dispêndio de divisas, até porque para importar vão precisar divisas!
Sendo que por este caminho, não só falha ao nascer a intenção de travar dispêndio de divisas, como abre portas para a criação de uma espécie de elite do arroz, um oligopólio do arroz, capaz de controlar, fazer e desfazer com o preço do produto, que afinal consumimos muito, embora estejamos e digamos orgulhosamente que somos o país do funge.
A produção do arroz é fraca, está, portanto, bem longe de responder a elevada demanda. Os dados do Ministério da Agricultura e Florestas apontam para uma diferença de 10 para zero. Consumo a rondar as 400 mil toneladas, produção abaixo das 30 mil toneladas ao ano.
Mas não sabia já disso o Governo quando falou e propalou o PLANAGRÃO, que tem na produção de arroz no país, e que custa 2,8 biliões de kwanzas, cerca 3,3 mil milhões de dólares, como salvador da decadência alimentar no país? Não sabia já disso quando, “como incentivo a produção nacional” e apesar do défice acima de 1 500%, agravou a taxa para a importação do arroz para 20%?
É que é preciso que se defina um caminho claro. Que se goste menos ou mais, mas que seja um caminho! Não podemos é estar a andar da esquerda para a direita como se de baratas tontas se tratasse, sinalizando uma soberba, prepotência e até mesmo arrogância da parte de quem define a estratégia económica do país.
Só quem assim é, toma o que não conhece a fundo como certo e leva a que o país todo tenha de o seguir, mesmo tudo indicando que é o caminho errado.
Embora tenha felizmente percebido a burrada e mudado a direcção, fá-lo de forma errónea, criando ambiente para que surja a elite do arroz no país, tal como há a elite das batatas fritas importadas e houve até bem pouco tempo, a elite do combustível, que quase parou o país por não sentir os seus interesses correspondidos.