Num país com o potencial agrícola e pecuário de Angola, a produção de proteína animal pode e deve ser um pilar estratégico para o nosso desenvolvimento. Quando se fala de proteína, não estamos apenas a pensar em carne, leite ou ovos. Estamos a pensar na qualidade nutricional, no crescimento saudável das nossas crianças, em adultos produtivos e em uma sociedade que prospera com base na força e na saúde do seu povo.
A produção de proteína animal vai muito além de colocar comida à mesa. Ela é a base de uma cadeia de valor que impacta a Economia, a Saúde Pública, a qualidade de vida e até os nossos costumes. A presença de proteínas de origem animal na dieta não só melhora o desenvolvimento físico e cognitivo, mas também fortalece as tradições culinárias e culturais que celebram a alimentação como um símbolo de vida e de união.
Quando temos crianças bem alimentadas, que crescem com acesso às proteínas de qualidade, garantimos que elas tenham as condições necessárias para se desenvolver plenamente, tanto física quanto mentalmente. E essas crianças serão os adultos que construirão a Angola de amanhã que queremos, com adultos produtivos, saudáveis, capazes de trabalhar e contribuir para o progresso do país.
Numa sociedade onde a produção de proteína animal é robusta e acessível, alimentamos mais do que o corpo: fortalecemos os laços sociais que se formam em torno da alimentação. Muitas das nossas tradições culturais envolvem o consumo de proteína animal em festas, cerimónias e rituais que trazem as comunidades juntas. Quando Angola produz e consome o que gera, criamos uma conexão mais profunda com a terra, com os nossos recursos e com a nossa identidade.
Além disso, a produção nacional de proteína animal gera empregos e fortalece o tecido social nas áreas rurais e urbanas. Onde há produção, há desenvolvimento. O surgimento de empresas, o aumento da empregabilidade e o crescimento de sectores inteiros da Economia dependem da sanidade e da qualidade do que produzimos. Cada fazenda produtiva representa mais do que um Centro de criação de animais. Ela é um ponto de geração de renda e de oportunidade para diversas profissões: agrónomos, zootécnicos, professores, médicos e enfermeiros, contabilistas e juristas que garantem que essa cadeia funcione com responsabilidade e eficiência.
Esse desenvolvimento depende, também, da presença de médicos veterinários que são os guardiões da saúde dos animais, que alimentam o país. Eles garantem que a carne, o leite e os ovos que chegam à mesa dos angolanos sejam de qualidade, seguros e livres de doenças. O trabalho desses profissionais é fundamental para que nossas crianças cresçam saudáveis e nossos adultos permaneçam produtivos.
Com uma produção nacional forte, reduzimos a nossa dependência das importações, o que significa mais autossuficiência alimentar e mais dinheiro a circular dentro do país. Cada fazenda produtiva e cada rebanho bem cuidado representa um passo em direcção a uma Angola mais forte, mais capaz de suprir as suas próprias necessidades e de exportar qualidade para o mundo.
Investir na produção de proteína animal é garantir um país que cuida do seu povo, promove mais empregos, valoriza o saber técnico dos seus médicos veterinários e fortalece uma economia diversificada e sustentável. Isso significa um impacto directo na qualidade de vida das nossas comunidades e na preservação das nossas tradições e costumes culturais, que se renovam ao redor da produção e do consumo do que é nosso.
*Médica veterinária, mestre em Segurança Alimentar e docente universitária
Jornal de Angola - 19 de outubro de 2024