Especialistas apontam o fortalecimento do sector da Agricultura como a melhor estratégia para que o país venha a se tornar num dos grandes mercados da região Austral do continente, com forte expressão nas trocas comerciais à escala global.
"O Impacto do Agronegócio - Motor de Desenvolvimento para Angola" foi analisado, recentemente, em Luanda, entre especialistas do agronegócio nacional e estrangeiros.
O fomento do agronegócio faz parte das estratégias de reformas implementadas pelo Executivo inclusive para a redução da dependência do sector petrolífero no peso do Produto Interno Bruto (PIB).
Ao fazer a introdução do painel, o ministro da Agricultura e Pecuária do Brasil, Carlos Henrique Fávaro, apelou aos investidores dos dois países e governos a apostarem fortemente no sector como a melhor forma de ajudar Angola na realização do seu verdadeiro potencial.
Carlos Henrique Fávaro acredita que o papel de Angola na segurança alimentar da região assume uma importância de grande vulto, tendo em conta as projecções da Organização das Nações Unidas (ONU) que apontam para um crescimento da população global para cerca de 9,8 mil milhões de pessoas até 2050, motivo pelo qual a Organização para a Alimentação e Agricultura (FAO) aponta para a necessidade de elevar a produção alimentar mundial em 50 por cento face aos níveis de 2010.
Para atender esta necessidade de forma sustentável, sublinha, a Agricultura Tropical deve ter um papel de destaque, com abrangência nas extensas regiões da América Latina, África Subsaariana e países da Ásia que ostentam um potencial de terras aráveis ainda não exploradas e onde a introdução de novas tecnologias irá influenciar de forma expressiva no aumento da produtividade agrícola e consequentemente o incremento dos índices de produção.
O clima tropical favorável para a produção de uma grande variedade de culturas agrícolas e pecuária, a extraordinária disponibilidade de recursos hídricos, com potencial para a irrigação e desenvolvimento de agricultura altamente produtiva, aliada à disponibilidade de irradiação solar para o cultivo e produção de energia fotovoltaica ao longo de todo o ano são apontadas entre as principais vantagens comparativas.
"Angola é um dos países com maior potencial agronómico e agroindustrial entre todos os membros da região da Comunidade de Desenvolvimento dos Países da África Austral (SADC) e pode, num curto prazo, resolver não só os desafios do seu cabaz alimentar básico, mas também, em certos produtos, se tornar um líder regional.
Parcerias para solidificar o mercado
O representante da International Food and Agrobusiness Management Association (IFAMA), Raj Vardhan, defendeu a realização de parcerias e coligações entre instituições estatais e privadas regionais com vista a enfrentar e superar os desafios de ordem tecnológica, financeira e estratégica para o alcance de objectivos num curto espaço de tempo.
Para o técnico do Agronegócio, a criação da Zona de Comércio Livre Continental Africana (ZCLCA) é um primeiro passo nessa direcção que deve ser bem delineado de modo que a região se torne num bloco coeso do ponto de vista económico, no qual Angola deverá ver as suas fontes de receita e divisas com a comercialização.
Dentre outras mercadorias de amplo consumo, foram destacados o milho, a banana e a mandioca, numa altura em que o Executivo aposta na construção de infra-estruturas rodoviárias, portuárias e ferrovias, fortemente impulsionadas por esta iniciativa.
"O futuro da excelência agrícola angolana reside na revitalização e no aumento das culturas de rendimento, como o café e o algodão. Para que este sector possa explorar o seu potencial, será necessário o acesso a mercados globais de maior dimensão, ao passo que o valor acrescentado pode ser obtido através de uma marca nacional de culturas", alertou.
Raj Vardhan considera que Angola é das poucas nações dotadas de abundantes terras aráveis e diversidade de condições climáticas que viabilizam a produção de uma vasta gama de culturas agrícolas.
Porém, alerta, os activos naturais representam uma vantagem necessária, mas não é suficiente para a garantia do sucesso, pois "a chave para desbloquear os entraves agrícolas reside na intervenção do homem, construção de infra-estruturas e no apoio institucional de quem de direito".
A digitalização, no dizer de Raj Vardhan, constitui outro elemento central da transformação agrícola no meio rural, na medida em que as ferramentas digitais podem ser utilizadas para criar registos fundiários electrónicos, fornecer intervenções de baixo custo sob a forma de aplicações para a gestão de pragas e doenças.