Durante a abertura do ano agrícola 2025/26, José de Lima Massano, Ministro de Estado para a Coordenação Económica, anunciou, no Moxico, que a agricultura angolana já representa cerca de 19% da produção nacional, contra 13% registados em 2017.
Culturas como batata-doce e batata-rena, mandioca, milho, feijão e outros grãos e hortícolas alcançaram níveis de autossuficiência no mercado interno. No entanto, o país continua fortemente dependente das importações de arroz, açúcar e trigo.
A produção nacional de arroz situa-se actualmente entre 45.000 e 50.000 toneladas, enquanto o consumo anual ronda 500.000 toneladas, o que obriga a importações significativas. Entre 2018 e 2022, Angola gastou cerca de 1,5 mil milhões de dólares na importação deste cereal.
Para reverter este cenário, o Governo anunciou o lançamento do projecto Nosso Grão, no âmbito do PlanaGrão, que vai produzir arroz e trigo para abastecer a Reserva Estratégica Alimentar, com a participação de produtores familiares das províncias do Uíge, Malanje, Bié, Huambo, Moxino e Moxico Leste.
Avanços na produção
O Ministro destacou que algumas províncias já produzem além das suas necessidades locais, o que cria excedentes e fortalece o comércio interprovincial.
A campanha agrícola 2023/24 registou uma produção total de 26,9 milhões de toneladas de produtos diversos, segundo o Ministério da Agricultura e Florestas. As raízes e tubérculos lideraram com 14,5 milhões de toneladas, enquanto os cereais atingiram cerca de 3,47 milhões de toneladas, sendo o arroz responsável por cerca de 50.000 toneladas.
Além disso, o Banco Nacional de Angola (BNA) reportou uma redução de 17,9% nas importações de bens alimentares nos dois primeiros trimestres de 2024, com o arroz a registar uma queda de 8,4%.
O arroz ainda é o desafio
Apesar dos avanços, o arroz continua a ser o principal obstáculo à plena autonomia alimentar.
Segundo o Ministério da Agricultura e Florestas, a produção nacional situa-se entre 45.000 e 50.000 toneladas, contra uma procura anual de meio milhão de toneladas.
De acordo com Wanderley Ribeiro, presidente da Associação Agropecuária de Angola (AAPA), seriam necessários cerca de 300.000 hectares de cultivo para substituir as importações e alcançar uma produção próxima de 1,2 milhões de toneladas.
Ainda assim, o país regista progresso: a produção “quintuplicou nos últimos dois anos”, impulsionada por investimentos públicos e privados em novas áreas de cultivo.
Desafios persistentes
Os principais entraves à expansão da produção nacional, segundo o Ministério da Agricultura, o programa FRESAN e relatórios da FAO, incluem:
- Acesso limitado à terra e a insumos agrícolas;
- Falta de sementes melhoradas e fertilizantes de qualidade;
- Fraca mecanização agrícola, com apenas cerca de 6% das lavouras mecanizadas;
- Infraestruturas rodoviárias e de armazenagem insuficientes;
- Dificuldades no acesso ao crédito agrícola.
Além disso, a agricultura familiar domina o sector, representando mais de 90% da área cultivada, com uma média de 2 hectares por exploração e produtividade ainda baixa.
Oportunidades e próximos passos
O Ministro Lima Massano reforçou que Angola dispõe de solos férteis, clima favorável e uma população jovem capaz de impulsionar a produção agrícola.
O Plano Nacional de Fomento da Produção de Grãos (Planagrão), integrado no Plano Nacional de Desenvolvimento Agrícola (PNDA), concentra investimentos em províncias como Uíge, Malanje, Bié, Huambo e Moxico, com foco em aumentar a produção de arroz e trigo e reduzir a dependência de importações.
O programa prevê aumento da mecanização, distribuição de sementes e fertilizantes, e fortalecimento de cooperativas agrícolas como pilares para o crescimento sustentável do sector.
Angola alcançou autossuficiência em várias culturas alimentares essenciais, uma conquista importante para a segurança alimentar e a diversificação económica. Contudo, o défice na produção de arroz continua a exigir atenção, investimento e políticas consistentes.
A superação destes desafios será decisiva para consolidar os ganhos já obtidos e garantir alimentos a preços mais acessíveis para os angolanos.
Fontes: Ministério da Agricultura e Florestas (Relatório da Campanha Agrícola 2023/24); Banco Nacional de Angola (Boletim Estatístico 2024); FAO (Country Profile Angola, 2024); AAPA (Declarações de Wanderley Ribeiro, 2024); Programa FRESAN (Relatório de 2023); Agência Lusa; Jornal Expansão; Angop.
30 de Outubro de 2025