Uma análise da BCG e do Fórum Económico Mundial conclui que, em alguns setores, as empresas terão perdas colossais no EBITDA. A solução é investir em medidas de adaptação: cada euro gasto dá um retorno de 2 a 19 euros. E o valor da economia verde quase triplica nos próximos cinco anos
Desde o ano 2000, os desastres climáticos provocaram 3,6 biliões (milhões de milhões) de prejuízos. Mas esta é só uma ínfima parte do que aí vem: com o agravamento das alterações climáticas, calcula-se que o PIB mundial caia cumulativamente de 16% a 22% até ao fim do século, devido aos eventos climáticos extremos.
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A estimativa consta de um relatório da consultora BCG (Boston Consulting Group) e do Fórum Económico Mundial. O documento, intitulado “O custo da inação: um guia
para os CEO navegarem no risco climático”, avisa que as medidas de ação climática em vigor são insuficientes para limitar o aumento da temperatura média global a 2º C face ao período pré-industrial e que os sinais de recuo em algumas políticas climáticas (a começar pela retirada dos EUA do Acordo de Paris) tornam o futuro ainda mais incerto.
As consequências para as empresas serão tremendas. “Os eventos climáticos extremos, como tempestades, inundações e incêndios florestais, danificam os ativos, interrompem as cadeias de abastecimento e reduzem a produtividade, especialmente nos serviços públicos, na agricultura, nas comunicações e noutros setores que dependem fortemente de infraestruturas físicas vulneráveis”, lê-se no relatório. “Os riscos relacionados com o clima expõem até 25% do EBITDA [lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização] a potenciais perdas nestes setores. Enfrentar estes desafios exige a adoção de medidas de resiliência robustas em todas as operações e cadeias de abastecimento.”
O risco não é igual para todos os setores económicos nem para todas as regiões. Os setores da comunicação e das utilities (eletricidade, gás, água, etc) são os mais afetados, sobretudo em África, na Ásia e no Médio Oriente, que atingem o patamar máximo de perdas no EBITDA, na atual trajetória de aquecimento global. Na Europa, o potencial de perdas vai de 10% a 15% nestes dois setores e de 5% a 10% na construção e infraestruturas, materiais e alimentação e bebidas.
Além dos riscos associados a fenómentos extremos, as empresas têm ainda de contar com os custos da própria transição energética. Por exemplo, os impactos de uma transição rápida, que impliquem pesadas taxas de carbono até 2030, coloca em risco 50% do EBITDA no setor dos materiais e de 30% a 50% nos metais e mineração, indústria química e utilities, na Europa.
Em comunicado, Manuel Luiz, diretor e partner da BCG em Portugal, diz que os custos económicos das alterações climáticas dispararam nas últimas duas décadas e que os riscos continuam a crescer. “Para mitigar impactos e manter a competitividade, é essencial reduzir as emissões carbónicas e fortalecer a resiliência empresarial num mercado onde a sustentabilidade já não é uma escolha, mas uma exigência.”
É um caminho que dá frutos económicos, adianta o relatório. ”As empresas que avaliam de forma abrangente a sua exposição ao risco reportaram que os seus investimentos atuais em adaptação e resiliência podem gerar retornos de 2 a 19 dólares por cada dólar investido.”
Mas a própria transição está também a criar um mundo de oportunidades de negócio, devido à crescente procura de soluções de adaptação para infraestruturas e cadeias de abastecimento. “Prevê-se que a economia verde salte de 5 biliões de dólares em 2024 para mais de 14 biliões de dólares até 2030. Os pioneiros em energia renovável, transportes sustentáveis e produto de consumo ecológicos podem ganhar vantagens competitivas e regulamentares substanciais, posicionando-se como líderes em mercados em rápida expansão.”
Os setores que mais deverão beneficiar deste crescimento são as energias alternativas, os transportes sustentáveis e os bens de consumo sustentáveis. Os crescimentos anuais nestes segmentos vão de 10% a 20%.
Fonte: https://visao.pt/visao_verde/alteracoes-climaticas/2025-02-20-relatorio-empresas-podem-perder-ate-25-das-receitas-devido-as-alteracoes-climaticas-mas-tambem-ha-dinheiro-a-ganhar/