De 7.584 toneladas actuais a um recorde histórico de 240.000 toneladas em 1973 – Angola aprova o Acordo Internacional do Café e promete recuperar altos níveis de Produção.
Novo Capítulo no Sector do Café
Angola, que outrora figurou entre os maiores produtores mundiais de café, assinala hoje um novo capítulo. O Acordo Internacional do Café de 2022, aprovado pelo Parlamento, revela um compromisso estratégico para reposicionar o país entre os “grandes” produtores. Esta decisão surge num momento em que os preços do café disparam nos mercados internacionais, impulsionados por condições climáticas adversas em países tradicionais como Brasil e Vietname.
Estratégia de Reposicionamento
A estratégia de transformação não se resume à simples produção em massa, mas sim à aposta na qualidade. O objectivo é lançar um café gourmet, valorizando a robustez da origem e a sua singularidade, em vez de competir apenas pelo preço. Para alcançar este feito, serão necessários investimentos significativos em tecnologia e na modernização da cadeia de valor. Contudo, o sucesso passa inevitavelmente pelo fortalecimento do Instituto Nacional do Café (INCA), cuja fragilidade actual – em termos de recursos financeiros, técnicos e metodológicos – é um dos principais gargalos para a retomada da produção em grande escala.
Números que Revelam o Potencial
Os números ilustram bem o potencial inexplorado: a produção actual de café comercial situa-se em 7.584 toneladas, contrastando fortemente com as impressionantes 240.000 toneladas produzidas em 1973, na última grande safra antes da independência. Este declínio histórico evidencia não só o desafio a enfrentar, mas também a enorme oportunidade de reverter este quadro.
A relevância do sector familiar, que responde por 78% da produção, e o protagonismo das províncias do Uíge e Cuanza Sul – com 49,4% e 45% da produção respectivamente – reforçam a necessidade de uma política pública coerente e ambiciosa.
Opiniões de Especialistas e Desafios Actuais
Apesar de sucessivos programas de apoio terem sido anunciados, a execução tem sido insuficiente, conforme alerta o engenheiro-agrónomo Fernando Pacheco, que destaca a falta de atenção por parte do Executivo na definição de uma política estruturada para a cultura do café.
Especialistas como Carlos Gomes da Angonabeiro sublinham que o país dispõe de condições – território fértil e potencial produtivo – para uma produção intensiva e competitiva. Enquanto isso, o economista Gaspar João lembra que Angola passou demasiado tempo a depender exclusivamente das receitas provenientes da exploração do petróleo, esquecendo o contributo vital que sectores como o do café podem oferecer à diversificação e fortalecimento do PIB.
Impacto Positivo nas Exportações
Os recentes números das exportações demonstram uma tendência positiva. Em 2024, foram exportadas cerca de 2.165 toneladas de café comercial, um aumento de aproximadamente 51% em relação a 2023. Portugal destaca-se como principal destino, reforçando ainda mais a importância de parcerias estratégicas, como a colaboração entre a Angonabeiro e a Delta Cafés, que integra o café angolano nos seus lotes de renome internacional.
O Caminho para um Futuro Sustentável
O renascimento do sector do café em Angola passa, agora, pela acção imediata e pela implementação de políticas públicas eficazes. A aposta na qualidade, no investimento tecnológico e no fortalecimento do INCA são essenciais para transformar o potencial inexplorado do país numa realidade lucrativa e sustentável.
A decisão de ratificar o Acordo Internacional do Café não é apenas um marco político, mas o ponto de partida para uma transformação no sector, que poderá criar empregos, gerar divisas e, sobretudo, resgatar o prestígio internacional de Angola. É imperativo que o governo e os "stakeholders" do sector unam esforços para tirar partido dos desafios e oportunidades, reafirmando o compromisso de colocar o café angolano no lugar que lhe é de direito no mercado global.
04 de Abril de 2025